“Como cortar pela raiz se já deu flor?
Como inventar um adeus se já é amor?
Não me deixe preencher com vazios
O espaço que é só teu
Não se encante em outros cantos
Se aqui comigo você já fez morada”
(Morada – Sandy)
Quantas vezes queremos preencher espaços de pessoas que já se foram? Queremos preencher os vazios, aqueles buracos nos corações que eram preenchidos com pessoas e memórias em um passado não tão distantes. Queremos preencher algo que ocupe o VAZIO para tentar reduzir a nossa dor, nossa perda, uma missão impossível.
Preencher um espaço do coração que já foi ocupado por alguém, seja esse alguém uma pessoa ainda viva ou uma pessoa que já morreu, é a maior besteira que podemos fazer.
Queremos cortar algo pela raiz, mesmo quando já existe uma flor, mas esquecemos que ao arrancar a flor, ela morre, D-E-F-I-N-I-T-I-V-A-M-E-N-T-E.
Quando temos que lidar com a ausência de pessoas que ainda estão vivas, mas que foram embora, temos que lidar com o LUTO de uma forma similar ao que lidamos com o luto de uma pessoa que morreu.
Independente da forma que esse relacionamento tenha terminado, com alegrias ou tristezas, só podemos continuar olhando para frente. Não podemos APAGAR nosso passado com uma borracha imaginária só porque aquele momento já não existe mais no presente. É como se quiséssemos simplesmente ESQUECER que um dia já fomos crianças. Não tem como. É impossível apagar completamente.
“Não quero reescrever as nossas linhas
Que se não fossem tortas não teriam se encontrado”
Muitas pessoas tentam apagar memórias que já existiram na tentativa de preencher os vazios do presente, tentam reescrever as histórias nas suas cabeças, tentam desembaraçar as linhas tortas do passado. Porém, esquecem que se as linhas não fossem tortas talvez nunca estariam nesse presente. Caminhos tortos precisaram ser caminhados, linhas tortas precisaram ser vividas para que chegássemos no presente.
“Não quero redescobrir a minha verdade
Se ela me parece tão mais minha quando é nossa”
A minha verdade descoberta é tão minha quanto nossa. Uma verdade vivida pelos olhos de duas pessoas. Dois corações que já pulsaram juntos a mesma verdade.
Essa verdade já vivida que me fez chegar até esse momento presente. Tudo aquilo que eu vivi me trouxe até esse aqui e agora: o dia de hoje.
Vivenciar o luto de alguém que já morreu é um grande desafio. Afinal, “como inventar um adeus se já é amor?”. Um amor que ainda arde no nosso peito, um amor que já fez morada em nossos corações, um amor que traz saudades. Não tem como enterrar todas as memórias vividas a sete palmos debaixo da terra, não tem como reduzir tudo ao pó. Não tem como apagar todos os cantos e espaços que já foram preenchidos, “se aqui comigo você já fez MORADA”
Pode deixar, hoje, eu consigo entender que esse ESPAÇO é só teu. E eu quero poder reacender cada memória alegre que já vivemos, quero poder continuar relembrando cada história boa, me alegrar e até poder chorar quando eu pensar no teu nome. É bom demais ter S-A-U-D-A-D-E porque me faz lembrar que eu tenho um CORAÇÃO. Me faz lembrar que meu coração já bateu forte por tantas coisas, por tantas pessoas, por ti.
Nosso coração tem espaço suficiente para cada coisinha que já amamos, tem espaço para cada memória, cada suspiro dado, cada flor que apreciamos, cada batida no peito acelerada, cada olhar de amor e carinho, cada “eu te amo” já dito. Nosso coração é enorme e tem espaço para o que já vivemos e o que ainda vamos viver. Entender isso é entender que você é feito de todos os pedacinhos de ti deste passado, de todas as pessoas que já passaram na sua vida e de todas que ainda virão. Você é seu passado, seu presente e futuro. Enfim, é entender que a cada novo dia você ganha mais pecinhas para preencher sua vida e que pra ter memórias novas não necessariamente precisamos apagar as antigas.
