Estamos acostumados a disseminar um padrão de nutrição de escassez que causa um bloqueio no fluxo de energia

Estamos acostumados a disseminar um padrão de nutrição de escassez que causa um bloqueio no fluxo de energia

Eu sempre tive dificuldade de comer quando era criança. Na maioria das vezes, quando chegava a refeição, eu comia pouco, o mínimo necessário para me manter em pé e deixava o restante no prato. Nunca consegui comer muito e sempre fui criticada por isso.

Já apanhei muitas vezes por não “comer direito”. Teve uma vez que ficou gravada na minha cabeça que foi bem forte: uma cuidadora puxou o meu cabelo até o chão, enquanto empurrava à força as colheradas de comida na minha boca. Eu chorava de desespero. Eu não queria mais comida. Pra mim estava bom.

Já teve vezes de eu jogar o prato de comida fora e fingir que tinha comido tudo. Eu jogava a comida no terreno do vizinho para as galinhas comerem (pelo menos alguém aproveitava a minha refeição porque é triste pensar que eu joguei comida no lixo). Isso tudo, com medo de apanhar ou ficar de castigo.

De um lado da “balança “, as pessoas que estavam ao meu redor no passado só queriam que eu comesse mais, mas sempre à base de uma punição ou recompensa forçada: “Quem comer mais rápido, vai ser o primeiro a ir brincar”, “Come logo!”, “Nossa! Você é muito chata para comer!”, “Você não vai sair da mesa enquanto não terminar o prato”. Ameaças não me faziam comer mais. Eu era capaz de ficar uma hora sentada na mesa, sozinha, enquanto minhas amigas já estavam brincando e eu não. Eu nunca briguei para sair da mesa e aceitava a punição, calada.

Do outro lado da “balança”, eu não gostava de comer e me contentava com “pouco”. Eu não me permitia me alimentar bem. Eu não sabia e ainda tenho dificuldade de me nutrir com qualidade, de uma forma saudável e prazerosa.

Eu não gosto de beber água! Esse é o maior absurdo da minha escassez na “alimentação”. Esse padrão “menos água” vem tanto da minha linhagem feminina quanto masculina. Minha mãe não bebe muita água e minha avó paterna tinha que colocar despertador para “lembrar” de beber água. E eu, tenho que encher uma garrafa de 2 litros para lembrar o quanto eu já bebi. Eu raramente sinto sede. É impressionante como o nosso corpo se acostuma com a escassez e situações extremas. Mas será que é saudável levar o corpo ao limite todos os dias.

A grande verdade é que não sabemos mais nos nutrir! Estamos acostumados a disseminar um padrão de nutrição na escassez e isso causa um bloqueio energético, não permitindo acesso a nutrição com abundância e prazer. Parece que estamos reduzindo o nosso prazer e abundância em todos os níveis da nossa vida e quando o prazer aparece, tem que ser com punição e controle, até na alimentação.

“Uma coisa é receber qualquer tipo de comida, outra bem diferente é ser realmente nutrida.” (Livro: Mulheres que correm com os lobos – La Llorona – Clarissa Pinkola Estés).
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Será que estamos enchendo a nossa “pança” com o que nos alimenta de verdade? Estamos recebendo o alimento correto? Estamos satisfeitos com a nossa nutrição? Estamos recebendo menos, o suficiente ou mais do que precisamos?