Eu passei por abusos quando eu era criança. Eu me reservo em respeitar o meu limite de não trazer muitos detalhes do acontecido, mas quero trazer meus insights e aprendizados de ter olhado para esse trauma, que ficou escondido nos meus calabouços internos durante muitos anos.
A situação foi no silêncio. Meteu a mão, invadiu meus espaços. Simples, sem falar nada.
Eu escondi tudo nos meus calabouços internos e não contei para ninguém, nem para mim mesma. Eu não havia classificado como “ABUSO”, eu não “entendia” que havia sido ABUSADA. É tanto silêncio no tabu que a vítima talvez nem se enxergue como vítima e muito menos o abusador.
Eu me senti pequena e inferior e em muitas situações repliquei esse comportamento sem saber que era do abuso. Eu me achava menor, me sentia inferior aos outros, não me sentia boa o suficiente e parecia que sempre estava faltando algo em mim. Com isso, eu sempre tinha que provar coisas, e correr atrás de tudo e de todos, de forma insana e perfeita, para que eu me sentisse amada e valorizada por alguém.
Me escondi na minha escuridão e silêncio por algumas décadas. Que vergonha e medo de falar. Foi tanto silêncio que eu não contei nada para ninguém, nem para mim. Eu calei minha voz, eu calei por vergonha e medo. Não consegui expressar que eu não queria aquilo e me culpei. Quantas vezes eu repliquei esse comportamento sem saber que era do abuso. Deixei de falar coisas por vergonha, com medo de ser julgada e criticada e com medo de ser culpada por algo que eu não tinha culpa. Não dei valor à minha voz para me encaixar em situações e em pessoas. Me escondi, me paralisei e fiquei sem movimentos para não ser vista.
Me senti desprotegida e criei um pavor de ficar sozinha. Quantas vezes eu fiquei em lugares que já não estavam bons para mim com medo de ser rejeitada e ficar sozinha! Quanta carência e medo da solidão. Medo do escuro. Autoestima abalada por não saber mais quem eu queria ser. Isso foi suficiente para eu me alimentar de MIGALHAS e não saber o meu valor e potência.
Por esconder tudo nas minhas cavernas internas, eu nunca enxerguei um culpado. Então, inconscientemente, repliquei durante anos e anos um círculo vicioso de auto punição, submissão, “criando” doenças e me entulhando com dores e culpas. Inconscientemente, eu não me achava merecedora de ser feliz e ter prazer na vida. E se eu achava que não merecia ter prazer, provavelmente me enxergava como pecadora e profana, com base nas impurezas que a sociedade prega, a mesma sociedade que culpa a vítima e não o agressor.
EU ME PERMITO SAIR DA ESCURIDÃO, mesmo que isso ofusque os meus olhos. Eu saio do medo do julgamento e da vergonha e DOU PODER A MINHA VOZ para falar o que precisa ser falado e para falar o que foi calado durante esta e outras vidas. Eu cansei de me calar e me esconder. #MinhaVOZtemPODER e eu quero poder usar com liberdade. Eu quero expressar a minha opinião, mesmo que isso seja desconfortável e traga confrontos com outras pessoas. Quantas vezes eu me calei pelo conforto do outro. Eu prefiro, neste momento, o desconforto e até o confronto do que voltar a me calar e sumir na minha própria invisibilidade. Eu vejo você, Priscila.