Me deixa quieto aqui no meu cantinho. Está tão gostoso aqui na minha zona de conforto

Me deixa quieto aqui no meu cantinho. Está tão gostoso aqui na minha zona de conforto

Já reparou o quanto estamos nos afastamos um dos outros? E eu não estou falando dentro do contexto da pandemia não. Isso vem acontecendo já há algum tempo.

Reclamamos que não temos relacionamentos com profundidade, mas no dia a dia falamos que não temos TEMPO para nutrir diálogos. Estamos sempre correndo. Com isso, estamos oferecendo conversas superficiais em todos os nossos relacionamentos, seja com familiares, amigos e relacionamentos amorosos.

Você enche o peito para dizer “Fulano é meu amigo!”, mas no fundo só fala com Fulano no aniversário dele (se lembrar) e no máximo no Natal ou Ano Novo. E olha que no Natal e Ano Novo nem conta por que nesses dias você recebe felicitações até da tia da cunhada da amiga da vizinha. Então, a pergunta é: Fulano é seu amigo mesmo? O que você sabe da vida de fulano? Quais são os problemas e dificuldades da sua vida que você conta pro Fulano? Porque só contar vitórias e alegrias é fácil. As redes sociais estão lotadas de alegrias superficiais. Está faltando uma troca com profundidade. E relacionamentos de verdade exigem conversas nutridoras com profundidade, certo?

Você é capaz de ficar ao lado do seu colega do trabalho por 40 horas na semana e não saber QUASE NADA da vida daquela pessoa. Ao mesmo tempo, quando você vai ao mercado, a senhorinha do 702 está falando detalhes da vida dela pra quem quiser ouvir. Que loucura!

Por que é tão difícil conversar nos relacionamentos?
Por que é tão difícil colocar para fora a nossa voz?

Eu tendo a acreditar, na minha pequena visão da verdade, que estamos esperando sempre o movimento do outro. Somos incapazes de abrir a nossa boca para conversar em profundidade com outras pessoas. Queremos mesmo é que o outro fale pra caramba pra gente ficar quietinho na nossa invisibilidade. “Me deixa quieto no meu cantinho, está tão gostosinho aqui na minha zona de conforto!”. “Vou entrar nesse círculo de mulheres, não vou nem ligar a minha câmera e dizer oi. Vou só ouvir o que essa pessoa está dizendo”, “Vou no almoço de família pra comer e olhar o celular”. E assim seguimos.

Um relacionamento com profundidade é um relacionamento com TROCA. É uma via de mão dupla. Não adianta só você ouvir e não querer falar. Não adianta só você falar da boca pra fora e não dizer a sua verdade. É preciso sair da invisibilidade, mostrar a cara, abrir o microfone, ligar a câmera, por mais desconfortável que isso possa parecer.
Não adianta você só reclamar e falar que Fulano não te procura. Não adianta só esperar Fulano te procurar. Não adianta esperar um acolhimento e atenção de fora se você também não faz esse movimento pra você e nem para fora. Você também precisa querer ouvir o que Fulano tem para te dizer. E isso exige movimento para abrir diálogos nutridores, se houver espaço para troca. Se não houver espaço para troca é melhor nem continuar a manter um relacionamento de ilusão.

Expressar a voz do seu coração é um processo de cura e amor que todas as pessoas deveriam se desafiar a trilhar. E você, está preparado?